Estevan de Negreiros Ketzer  |  Psicólogo Clínico CRP 07/19032

Jovem feliz com seus estudos

O estudo melhora sua vida em 3 quesitos

O bom estudo melhora a vida significativamente. Portanto, algo tão essencial não deve ficar reservado a um lugar secundário. Ele promove inteligência, autocuidado, sentido e organização em todos os aspectos. Quem estuda precisa de sentir o quanto o estudo, paulatinamente, melhora sua vida na prática.

Nossa perspectiva hoje é exaltar as qualidades do estudo e seus resultados.  Veremos os seguintes tópicos relacionados ao estudo: 1) a inteligência; 2) a personalidade; e 3) a quantidade adequada.

1. A inteligência aperfeiçoada pelo estudo

Por mais que possamos discutir critérios para a medição da inteligência é indiscutível o importante papel que ela tem em nossa vida para o estudo. O termo inteligência vem do latim inteligere ens, com o significado de “ler o ser por dentro”. Essa ideia atrelada ao termo mostra algo muito importante para atribuirmos a alguém a qualidade de inteligente, pois essa pessoa deve saber ler o fenômeno tal como ele é, sem interpor julgamentos pessoais ou mesmo erros de medição acerca da coisa envolvida.

Entretanto, somente o qualificativo não nos ajuda dentro quando desenvolvemos a inteligência pelo estudo. Há diversas formas de desenvolver a inteligência pelo estudo e aqui traremos a mais importante dentre elas: entender os princípios básicos do domínio de estudo. Todo o estudo é uma postura que um autor traz acerca de um acúmulo de conhecimentos. Por esta razão, os motivos que elencam certo conhecimento em certa posição em uma hierarquia também possuem razão específica de se mostrarem em uma determinada em detrimento de muitas outras.

Um bom exemplo é a disciplina da cladística em biologia. Vejamos abaixo a classificação mais comum da divisão da vida em determinados domínios, dada por Carolus Linnaeus:

Reino: a maior das categorias, é constituída por um conjunto de filos;
Filo: constituído por um conjunto de classes;
Classe: constituída por um conjunto de ordens;
Ordem: constituída por um conjunto de famílias;
Família: constituída por um conjunto de gêneros;
Gênero: constituído por um conjunto de espécies;
Espécie: grupo de organismos capazes de reproduzir-se e originar descendentes férteis.

A cladística foi sistematizada para organizar as diferenças entre os seres naturais. Essas diferenças já foram mais prolongadas quando se observou a diferença entre células procariotecas (sem núcleo) e eucariotecas (com núcleo). Não entraremos nos pormenores dessa divisão, por mais que ela seja interessante para nós.

O que queremos definir de uma maneira simples, uma vez que o caráter de todo o bom conhecimento é chegar a melhor explicação possível de um determinado fenômeno, é propor um modo de ensinar que agregue valor para quem faz uso do estudo para sua vida. No caso da cladística (classificação taxonômica), por exemplo, é muito interessante perceber certas características anatômicas entre os animais, por exemplo, quando vemos estruturas cranianas diferentes entre chimpanzés e gorilas. Ambos animais possuem reino, filo, classe, ordem, família iguais, porém, diferenciam-se no gênero e na espécie. Tais diferenças, são extremamente evidentes quando enxergamos a olho nu seus tamanhos.

Essa forma de organizar o estudo é inteligente, pois leva em consideração as diferenças também de órgãos e ossos entre os animais, também pensando no desenvolvimento de suas funções. E para qual motivo essas diferenças são relevantes? Essas diferenças não são apenas para uma elegância teórica que um cientista evolucionista possa utilizar, mas também são diferenças que projetam uma especificidade que leva aquela espécie a possuir certas características únicas quando comparada a outra espécie.

Um exemplo é a alta capacidade de aprendizagem de um chimpanzé, a qual é diferente do gorila. Essa aprendizagem do chimpanzé nos auxilia a entendermos o processamento da inteligência humana quando realizamos um estudo mais aprofundado. E ao realizarmos esse estudo nós podemos conhecer melhor nosso próprio processamento cognitivo, quais são as informações que melhor definem um chimpanzé, e também o modo do chimpanzé usar seu instinto e fazer associações de estímulos.

Portanto, nesse breve exemplo, vemos como o estudo pode nos fazer conhecer melhor os objetos do mundo exterior de forma a aprimorar o entendimento da realidade. Esse domínio se dá nos mais variados campos científicos. A noção de ciência como acúmulo e ruptura (por exemplo, diante à descoberta de uma nova tecnologia) do conhecimento, tem acompanhado o ser humano há séculos em busca da verdade acerca dos mais variados estudos. Veremos o quanto essa busca da verdade pelo estudo também é capaz de melhorar a personalidade do ser humano.

2. O desenvolvimento da personalidade como parte do estudo

O estudo tem um papel preponderante para o desenvolvimento da educação de uma pessoa. Nós podemos, com o estudo adequado, transformar nossa forma de relacionar conhecimentos e, por isso mesmo, mudar a forma na qual nós nos costumamos a pensar de um determinado jeito. O bom estudo deve ser libertador para a vida da pessoa, uma vez que ele revela também as reais necessidades dela.

Saber o que preciso para o próximo nível de estudo é extremamente importante.  Contudo, preciso de desenvolver um misto de curiosidade e coragem adequados para o tomar esse passo. Só posso fazê-lo se, de fato, esse conhecimento contido no estudo não for apenas ilustrativo, mas realmente imprescindível a sua efetividade na vida.

As questões de personalidade são muito interessantes aqui, pois uma pessoa mais introspectiva pode se beneficiar muito mais com um estudo objetivo da realidade, pois colocará em funcionamento as dificuldades que sua personalidade contém. De maneira oposta a ele, uma pessoa mais extrovertida precisa de um conhecimento que o internalize mais. Nós entendemos essa dinâmica pela via da complementariedade de opostos, sem, no entanto, desacreditarmos de sua dificuldade de pô-la em prática.

Para que o estudo adequado coloque em prática esse conhecimento transformador para a pessoa, precisamos de ter em mira um texto de apoio adequado e um professor que enxergue as necessidades do aluno com acuidade suficiente para acolhê-lo em sua dificuldade e, paralelamente, predispô-lo a interrogação ativa de suas necessidades básicas não atendidas. Pode acontecer do aluno simplesmente se calar por: 1) desviar o foco do que é ensinado; 2) fazer a pergunta justamente inadequada para o seu caso. Ambos os elementos mostram ao professor o quanto o estudo possui resistências para causar uma elevação na vida do aluno.

Esses fatores não devem desanimar o professor. Pelo contrário: é justamente isso o que o professor deve começar a pensar como parte do seu processo interno de assimilação da dificuldade do aluno. Aqui a ideia de uma nova estratégia é necessária para ser combinada junto ao estudo aluno.

A – “Quem sabe não tentamos de um outro jeito examinar nosso estudo?”

Essa intervenção auxilia na criatividade do aluno.

Ou mesmo examinar algo mais particular que esteja mostrando-se de difícil acesso:

B – “Será que não poderíamos rever esse ponto do nosso estudo mais tarde?”

Essa intervenção visa a uma sutil mudança de foco, o que leva a outro aspecto que o aluno possa conseguir se conectar com mais aderência.

As indagações acima são apenas dois exemplos de como a figura do professor precisa de ser um estímulo na criação de uma estratégia para a transmissão do estudo. Talvez, nesse ponto, o professor possa falar de algo de sua própria experiência com sua história de vida, para mostrar ao aluno que, em certas condições, o aprendizado torna-se mais difícil durante o estudo.

C – “Lembro de certa vez quando me pegava tentando entender as equações de segundo grau na escola e notei que o professor também tinha dificuldade em ensiná-las…”

Aqui vemos outro exemplo de como a experiência do professor pode servir para o ensino. Ele se mostra também com sua dificuldade junto ao aluno, conectando-se com ele, sem dar a resposta exata para sua dúvida, mas entendendo que algumas elaborações precisam da participação da mente ativa do aluno, para que justamente ele possa pensar sobre o estudo com maior acuidade.

D – “Entendo que você esteja querendo ir por esse lado, mas já reparou que ele é mais complexo nesse outro ponto?”

Esse processo ativo da mente do aluno envolve o senso de si mesmo. Em nossa prática de ensino, o reconhecimento do si mesmo que aprende do aluno exige um deslocamento da postura meramente repetidora que vemos nas bases tradicionais do ensino curricular. O ensino precisa de momentos que exijam lembrar de certas passagens do estudo, porém, isso deve ser feito como parte do processo de si mesmo da pessoa em busca de adentrar cada vez na história do conhecimento e na metodologia adequada para captá-lo.

Esse processo exige uma sensibilidade diante do conhecimento de si mesmo.

O aluno pode começar a elaborar o estudo quando começa a fazer perguntas desse tipo:

“Qual postura meu corpo deve adotar durante o nosso estudo?”

“Será que estou alegre demais ou muito triste para o estudo?”

“Será que esse estudo se relaciona com o outro que vi semana passada?”

Quando o aluno começa a realizar essas perguntas é a boa percepção de que ele já começa a internalizar de uma maneira específica o estudo consigo mesmo. Portanto, o professor também além de conhecer a matéria dada com excelência, deve também ter a qualidade da temperança, sabendo pontuar tão bem quanto é capaz de transmitir o conhecimento. Esse comedimento por parte do professor desenvolve um senso de austeridade muito bom para as condições adequadas de estudo.

3. A quantidade adequada para o estudo

Quando você aprende algo, por mais banal que seja, impreterivelmente, fará relação com outra coisa que você leu ou, no caso de um texto mais difícil, terá de ir em busca das referências dessa informação para prosseguir no estudo. A maioria das pessoas para exatamente nesse último ponto, por vezes não conseguindo mais realizar ligações entre outros pontos do estudo. Por que isso ocorre? A resposta se dá pelo esforço que a pessoa terá ao procurar referências sobre aquela informação.

Na atual era do conhecimento, cuja grande quantidade é despejada com filtros por vezes duvidosos acerca de sua veracidade, esse se torna um ponto que nos deixa por vezes perdidos. A relação de veracidade acerca dos conhecimentos aprendidos se torna uma dificuldade a mais que não queremos lidar. Como ser honesto com aquilo que estou disposto a aprender? Deve haver dois momentos indispensáveis para qualquer estudo:

A – Conhecer seus princípios fundamentais aterrados na realidade;

B – Investigar aos poucos a validade desses princípios.  

Quando o conhecimento ao invés de elucidar começa a não ser mais retido pela memória nos aproximamos de um ponto nevrálgico. O estudo torna-se perigoso para a própria pessoa e, por consequência, para quem estiver à sua volta. Por que utilizamos aqui o adjetivo “perigoso”? Porque estamos enxergando um problema devido ao excesso de conhecimento sem a justa criação de uma medida que proporcione uma forma de validação na realidade.

Em outras palavras, é quando se inverte a construção pormenorizada da ciência por um argumento opinativo. Se faz isso porque a quantidade foi tanta que o aluno não pesquisou os detalhes do estudo o suficiente para testar as hipóteses necessárias afim de atingir uma argumentação consubstancial, mesmo que parcial, sobre sua validade.

A admissão da parcialidade do conhecimento é uma forma muito honesta de fazer do nosso estudo parte da nossa vida.

“Eu fui até aqui. Investiguei esses tópicos e mais estes. Entretanto, na parte determinada a terceira hipótese estou em falta…”

Esse fato não impede que certas ilações possam ser teorizadas. Inclusive, indicamos a teorização nesses casos para incentivar a criatividade do aluno, quando esta incide em falta. É um aspecto muito importante que o professor dê subsídios para incentivar a imaginação do aluno, propondo pequenos exercícios:

“Quem sabe possamos imaginar o que aconteceria se um terremoto formasse uma cratera ali na rua. O que você faria? Vamos escrever isso!”

A delimitação de um exercício capta por completo a atenção do aluno. Ele criará um espaço próprio para a resolução do problema e precisará fazer isso em certo tempo, o que também mostra uma restrição importante. Um dos elementos essenciais para a aprendizagem é a demonstração do caminho escolhido para alicerçar o estudo. Uma maneira de fazer isso é através de um exercício que sintetize o estudo, levando aos princípios básicos ou mesmo demonstrando um aspecto do conhecimento aprendido.

É extremamente relevante que o professor fique atento a esse cuidado com a quantidade de conhecimento do aluno diante ao estudo. Ele pode estar lendo tantos textos a ponto de perder o objetivo inicial que a leitura deveria provocar nele. Nesse caso, como não estamos tratando de um estudo dirigido para concursos públicos, cuja a quantidade precisa ser assimilada em pouco tempo, nossa preocupação passa a ser com a qualidade do que se está aprendendo.

O professor deve indicar nesse caso uma leitura adequada ao aluno e cobrá-la para ver se o desenvolvimento do estudo provocou nele alguma mudança de perspectiva. Se a quantidade de estudo foi suficiente a ponto de o aluno criar a partir de si mesmo considerações e ilações, temos a demonstração de um resultado portentoso do estudo.

 Nessa breve exploração da importância do estudo e seus benefícios focamos em três elementos indispensáveis. Não podemos esquecer que esses pontos são sugeridos uma vez que partimos do profundo conhecimento do professor e do interesse do aluno em despertar em si uma consciência na qual sua inteligência possa se expandir com confiança.

Sem as condições básicas desse interesse a própria ideia de inteligência fenece, dando forma a uma idiotia. A qualidade de idiota significa aquilo que não sai de si mesmo. Em outras palavras, um estudo tão limitado a ponto de impedir uma nova assimilação da vida em direção ao crescimento, seja intelectual como existencial da pessoa, é um estudo inadequado, impróprio para o consumo.

Por essa razão o estudo é visto por nós como o grande marco para uma maior qualidade em todos os aspectos da vida humana.

Referências:

Gordon Dryden – Revolucionando o Aprendizado

John Taylor Gatto – Emburrecimento programado

Eysenck, H. J. (1992). Personality and education: The influence of extraversion, neuroticism and psychoticism. Zeitschrift fur Padagogische Psychologie, 6, 133-144.

Autor: Estevan Ketzer

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